CAMPANIÇA - UMA LÃ QUE É DE FIAR

E é a «Campaniça», tão rústica e sóbria, tão bem adaptada à ingratidão da terra que é o seu berço, e que por isso mesmo não a desdenha, que há-de viver nela e dar-lhe novas forças.

Raça autóctone do sul de Portugal, a Campaniça encontra o seu maior efetivo no Baixo Alentejo. Marcada por uma notável rusticidade e por um exuberante instinto maternal, consegue, mais do que sobreviver, gerar riqueza, mesmo nas condições difíceis do território que habita no qual habilmente contribui para a manutenção de um sistema sustentável de produção agrícola, como o é o Montado.   

Bordaleiros comuns, de cor branca, sendo raros os exemplares de cor preta. Detentoras de lã de mérito excecional, bem característica, de «tipo cruzado» e extraordinariamente altosa, diferenciando-se da lã de Merino ou Churro. Como é próprio do tipo cruzado, a fibra é ondulada, com elevada resistência e singular comprimento. O extremo tochado do velo conferem-lhe um elevado rendimento, que anda à volta dos 50%, excedendo o rendimento regular.

Esta lã que, pela forma como é produzida, mais do que um produto natural, é um produto sustentável de um território que, ela própria, teima em ajudar a humanizar.

Características Morfológicas

  • Cabeça: característica e inconfundível, é comprida, estreita e arredonda;
  • Orelhas: pequenas e divergentes;
  • Cornos: nos machos estão sempre; presentes, por vezes rudimentares nas fêmeas; grossos, rugosos, de secção triangular, enrolados em espiral;
  • Pescoço: curto e grosso nos machos, comprido e delgado nas fêmeas;
  • Tronco cilíndrico e peito estreito;
  • Velo extraordinariamente tochado em toda a sua extensão;

Da pastorícia à produção de fio - O ciclo tradicional da lã

Operação, levada a cabo por profissionais devidamente formados, que, respeitando integralmente as premissas do bem-estar animal realizam o corte da lã aos animais, com o auxílio de uma tesoura ou máquina. A tosquia inicia-se pelos membros inferiores, passando pelo peito e barriga, terminando no lombo. À lã retirada de cada animal dá-se o nome de velo, o qual individualmente é enrolado, ficando para o exterior a parte que se encontrava junto à pele.

A lavagem da lã tem duas etapas distintas, numa primeira fase a lã é mergulhada em água quente durante algum tempo e seguidamente a lã é lavada em água fria, de preferência em água corrente de um rio/ribeira. Por fim, é deixada a secar ao sol.

Ato de sovar a lã com uma vara de loendro para depois, com os dedos, cramear.

Tarefa que consiste em desfazer os nós existentes na lã e, se necessário, retirar algumas impurezas.

É o ato de desfiar e pentear, na mesma direção, as fibras de lã de ovelha. Neste processo utilizam-se as cardas (instrumento com pegas munido de arames curtos e finos) de modo a desenriçar a lã.

Ato de torcer ou reduzir o fio a qualquer matéria filamentosa. Faz-se alongando e retorcendo as suas fibras. É a torção que confere ao fio resistência à tração, pois faz com que as fibras se apertem umas contra as outras.

Com o auxílio do fuso ou roda de fiar a lã é transformada em fio.

Fontes:

Ministério da Agricultura e Pescas, Secretaria de,  Estado do Fomento Agrário, Direção-geral dos Serviços Veterinários, Boletim Pecuário, Teófilo Lopes Frazão, Ovinos Campaniços, 1982,Sociedade Astória, Lda.

Citações

Teófilo Frazão, Ovinos Campaniços, in Boletim Pecuário, 1982, Sociedade Astória, Lda.